O primeiro satélite manezinho chamou a atenção da AEB (Agência Espacial Brasileira) e do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Colaboradores de ambas as instituições vieram à Universidade Federal de Santa Catarina para avaliar a possibilidade de usar sua plataforma numa próxima missão e mesmo “encomendá-la” à equipe multidisciplinar do SpaceLab, laboratório do Centro Tecnológico responsável pelo FloripaSat-1. Realizado nos dias 12 e 13 de março, o encontro lotou de alunos, professores e técnicos a sala de reuniões do Labtucal (Laboratório de Tubos de Calor), no Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC.
“Foi concluído que o nível de maturidade da nossa equipe é adequado, e que o próximo passo consiste na AEB viabilizar o financiamento necessário para fabricarmos o novo satélite”, resumiu o Prof. Eduardo Augusto Bezerra, do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica (de camisa branca, à direita na foto principal). Em dezembro passado, o coordenador do SpaceLab acompanhou o lançamento do FloripaSat-1 na China, como carga secundária do CBERS-04A, (sigla em inglês para Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres).
Sob sua orientação, estudantes de graduação e pós-graduação de cursos de Engenharia e Computação da UFSC desenvolveram um nanossatélite em forma de cubo, que orbita a mais de 629 quilômetros da superfície terrestre e passa sobre Florianópolis diariamente. Radioamadores de todo mundo vem recebendo seus sinais de telemetria. Por ser compacto, o FloripaSat-1 teve custos reduzidos de fabricação e lançamento. Ele se dissolverá quando reentrar na atmosfera terrestre, por regulamentação internacional, não gerando lixo espacial. Estes são alguns dos motivos que trouxeram visitantes de outros estados à capital catarinense, em plena pandemia. “Uma vez demonstrado que este nanossatélite está funcionando, nos interessa usar sua tecnologia para dar suporte aos sistemas de bordo que estamos desenvolvendo em Natal”, disse a Professora Fátima Mattiello, Coordenadora dos Centros Regionais do INPE, com unidades nas regiões Sul, Norte e Nordeste.
Competências
Mas há outras razões para AEB e INPE confiarem na UFSC. O LEPTEN (Laboratórios de Engenharia de Processos de Conversão e Tecnologia de Energia) foi um dos pioneiros em contribuir com programas espaciais brasileiros. Associado ao LEPTEN, o Labtucal participou de todas as missões brasileiras do Programa Microgravidade da AEB, graças ao empenho de sua coordenadora, Professora Márcia Barbosa Henriques Mantelli, que era pesquisadora do INPE antes de escolher a UFSC para alavancar a carreira acadêmica, como docente do Departamento de Engenharia Mecânica e integrante do SpaceLab. “O histórico dela na área espacial e sua experiência na área térmica serão de grande utilidade na nova missão”, ressaltou o Prof. Eduardo, que também participou das edições de outro programa da AEB, o UNIESPAÇO, no qual teve origem o FloripaSat-1.
O SpaceLab já entregou o módulo de comunicação da plataforma multi-missão para a série de satélites Amazônia do INPE, mas isso é só o começo. “No momento em que a UFSC passar a fornecer o módulo de serviços, a ser utilizado na substituição dos satélites atuais da série SCD, abre-se uma possibilidade sem precedentes para a adoção da nossa plataforma como padrão por todas as instituições que forem fazer parte da constelação (conjunto de satélites com uma missão em comum)”, previu ele. “O principal resultado disso será um domínio total da tecnologia a ser embarcada nos satélites, com independência total dos fornecedores estrangeiros.”
Aprovados no exame
Durante a CDR (Critical Design Review, nome técnico da reunião no Labtucal), representantes do laboratório se prontificaram a fabricar a estrutura metálica do novo satélite, evitando assim sua importação. “Nós temos condições de fazê-la, com poucos recursos”, disse a Professora Márcia, que já participou de outras revisões de satélites de maior porte, quando funcionária do INPE.
Nas discussões concluídas dia 13, o protagonismo foi dado aos estudantes e eles impressionaram os visitantes com sua desenvoltura. “A experiência obtida com esse tipo de evento é marcante na carreira dos alunos. Ao responderem as questões com conhecimento do que estava sendo discutindo, eles ficaram ainda mais seguros de conseguirem falar a mesma linguagem utilizada no programa espacial brasileiro e internacional”, salientou o Prof. Eduardo.
Entusiasta da missão, ele chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para custear parte das despesas de viagem à China, complementando contribuições da FEESC (Fundação Stemmer para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) e do Centro Tecnológico da UFSC. “Meu objetivo com esses projetos consiste em formar recursos humanos não apenas em atividades técnicas, mas também administrativas e gerenciais.”
Agora os acadêmicos dependem da aprovação do financiamento da AEB para que o domínio da tecnologia dos CubeSats, que desde 2010 proliferam no planeta, avance cada vez mais em Santa Catarina. “É uma plataforma barata para embarcar o decodificador do Sistema Brasileiro de Coleta de Dados, usado desde os anos 90 para monitoramento ambiental, previsão do tempo e fornecimento de informações a ANA (Agência Nacional da Água) e outras entidades governamentais”, explicou Fátima Mattiello. Ela levou consigo boa impressão da equipe responsável pelo satélite manezinho e a aprovou no “exame” que foi a CDR.
O próximo teste da UFSC poderá ser desenvolver uma versão melhorada do seu primeiro nanossatélite e com o dobro do tamanho, capaz de catapultar a instituição a patamares ainda mais altos do que o FloripaSat-1 já alcançou.
Por Heloisa Dallanhol
Equipe de Divulgação EMC/UFSC
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