O Estudo Brasil: Mestres e Doutores 2019 revelou uma explosão no número de pós-graduados no país entre 2009 e 2017. Houve um crescimento de 488% e de 657% na obtenção dos respectivos títulos, se comparado aos dados do período analisado na investigação conduzida pelo CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos).
Ainda mais importante, o número de empregos formais para Mestres e Doutores no Brasil cresceu 92% e 125%, respectivamente, no período referido. Na verdade, a elevação se deu em estabelecimentos de grande porte: os percentuais de empregabilidade de pós-graduados aumentaram em instituições ou empresas que têm 500 ou mais empregados (neste caso com destaque para universidades), diminuíram naquelas de médio porte (100 a 499 empregados) e mantiveram-se estáveis nas de pequeno porte (20 a 99 empregados). Fazendo um recorte, em 2017 a proporção do total de mestres que trabalhavam em empresas privadas era de 22%, e a de doutores, 10%.
A fim de refletir sobre o último ponto, a Alumni EMC promoveu, dia 27 de abril, a mesa-redonda virtual Mestres e Doutores – Como se inserir no mercado de trabalho fora da academia. Para compartilhar suas experiências, foram convidados dois associados: Luciana Wasnievski da Silva de Luca Ramos, Lead Mechanical Engineer na empresa Heatcraft Worldwide Refrigeration e Vangelo Manenti, Suspension Engineer na Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Networking “qualificado”
Luciana fez mestrado na UFSC e doutorado na University of Michigan, ambos em Engenharia Mecânica. Atuou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na Whirpool, no POLO e na University of Maryland. “Eu queria fazer mestrado e doutorado para trabalhar na indústria”, disse Luciana, que no ano seguinte ao doutoramento foi contratada como Senior Researcher pela Whirpool, Unidade Embraco de Joinville. Em 2013 entrou no IPT.
“Ganhei experiência no relacionamento com empresas públicas, agências de fomento, startups privadas a empresas multinacionais, por meio da proposição e desenvolvimento de soluções tecnológicas multidisciplinares”, comenta. “E sugere a quem busca ansiosamente aumentar sua rede de contatos: “você não precisa de muitos, você precisa de poucos contatos, mas com qualidade, de pessoas que trabalharam com você, que lá adiante vão estar em outras posições ou outras empresas, vão conhecer você e poder lhe dar referências”.
A recomendação da Luciana é baseada em experiência recente. Em fevereiro de 2021, ela se tornou Lead Mechanical Engineer no Alternative Systems Center of Excellence da Heatcraft Worldwide Refrigeration com o “empurrãozinho” de um conhecido. “Logo no início do processo seletivo, fui identificada pelo gestor da vaga. Ele foi um ex-colega de trabalho no Brasil que também cursou Engenharia Mecânica na UFSC. Então tudo ficou mais fácil”, revelou.
“Um dos mais importantes networkings é o que a gente criou na UFSC e que levamos para o futuro profissional e para a vida: a Alumni EMC”, pondera a Engenheira Mecânica Carmem Lucia Duarte do Valle Pereira, conselheira da Associação que moderou a live do dia 27, da qual participou também Lucia Costa, sócia da Soul HR Consulting, Bacharel em Ciências em Economia e em Engenharia de Produção, com Certificação em Coaching pelo Management Research Group Institute (EUA), Especialização em Planejamento Estratégico e Governança Corporativa Feminina.
Foi Lucia que trouxe à tona o estudo do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, além de concordar com a importância de ter contatos “qualificados”. “Networking não é quantidade, você precisa de contatos que te validem, que conhecem seu valor e que podem te recomendar”, acrescentou.
Por sua vez, Vangelo foi contratado com base no que apresentou num evento científico. “Dentro do mestrado, tive oportunidade de ministrar disciplinas de Engenharia Mecânica numa faculdade de Criciúma e gostei. Já estava com o doutorado engatilhado para entrar na vida acadêmica, mas fui a um congresso apresentar artigos, que era resumo do meu tema de mestrado (em Sistemas Mecânicos, Mecanismos e Dinâmica Veicular), e pessoas da VolksWagen gostaram do que eu tinha apresentado e me chamaram para conhecer a indústria”, contou. Resultado: no mesmo ano em que terminou o mestrado na UFSC, ele foi contratado como Suspension Engineer na Volkswagen Caminhões e Ônibus, empresa na qual trabalha há quase 3 anos. “No passado tinha um certo preconceito, mas está diminuindo”, conclui.
Assista o vídeo da mesa-redonda em https://www.youtube.com/watch?v=8zJv0EM8wR0
Fonte: Heloisa Dallanhol, com dados do estudo disponível em https://www.cgee.org.br/web/rhcti.