Cancelada por causa da limitação orçamentária da Universidade Federal de Santa Catarina, a 18ª Edição da SEPEX (Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão) não será mais promovida de 17 a 19 de outubro. Também deixará de acontecer a solenidade alusiva ao meio século de pós-graduação na UFSC, programada no âmbito da SEPEX.
Entretanto, como o primeiro curso de mestrado – não só nesta Universidade, mas em toda Santa Catarina – foi na área de Engenharia Mecânica, convidamos professores envolvidos com sua implantação a lembrar como tudo começou. Começamos com o Prof. Arno Blass, que proferiu uma palestra muito informativa quando das comemorações dos 40 anos da pós. Seu belíssimo texto serviu de base para este artigo, que está longe de esgotar o tema, e será seguido por outros, com citações a outras pessoas igualmente importantes no processo de criação dos programas de pós-graduação.
Houve um tempo em que pós-graduação era restrita a poucos, muito poucos. Nos anos 60, alguns dos primeiros professores da Escola de Engenharia Industrial (EEI) obtiveram título de mestre em outros estados ou países, principalmente Alemanha. Eles viram a pesquisa científica deslanchar em outras instituições e resolveram fomentá-la na UFSC. “O curso que propúnhamos criar, diga-se, por uma questão de justiça, era muito similar ao da Coppe (UFRJ). O elemento de originalidade estava na área de Fabricação, alardeada desde o início como vocação institucional da EEI”, disse o Prof. Arno Blass, que coordenou a pós-graduação por 12 anos, quando ela era denominada CPGEM (Curso de Pós-graduação em Engenharia Mecânica).
Em 1968, a comissão designada para fazer o projeto do primeiro curso de pós-graduação entregou-o ao Prof. Caspar Erich Stemmer, então Diretor da EEI, o qual se apressou em defendê-la perante autoridades responsáveis pelo credenciamento do mestrado, em Brasília, com sucesso.
Conseguiu que o CNPq declarasse a EEI Centro de Excelência no Ensino de Engenharia Mecânica, pré-requisito para o curso ser autorizado pelo Ministério da Educação e este, condição necessária para obter financiamento do programa FUNTEC (Fundo Tecnológico), do BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, hoje BNDES).
O BNDE deu recursos financeiros para melhorar a biblioteca, financiar a vinda de dois professores visitantes estrangeiros e comprar um computador IBM 1130 (que com apenas 16kB de memória, entrou para a história da educação brasileira por ter sido um dos primeiros computadores numa universidade). Em paralelo, a CAPES incluiu o curso proposto em seu programa de bolsas.
Faltava anunciar o primeiro mestrado a ser oferecido pela UFSC. Cruzando fronteiras estaduais, professores fizeram visitas de divulgação às escolas de engenharia mecânica de toda região Sul e em 1969 teve início o mestrado, com mais de 20 alunos. Para algumas das disciplinas oferecidas no primeiro período letivo não havia material bibliográfico suficiente. “Quando muito, havia um exemplar de cada livro na biblioteca”, explica o professor aposentado.
A despeito das dificuldades, em 1970 ocorreram as primeiras 7 defesas: 4 propriamente em Engenharia Mecânica e 3 em Engenharia de Produção (que havia começado como área de concentração do programa de Engenharia Mecânica e dele se desvinculado em 1970). Detalhe da época: as dissertações eram datilografadas e os membros da banca recebiam cópia feita com papel carbono. Em 1971, foi criado o Departamento de Engenharia Mecânica. Quando os poucos mestres do seu quadro docente saíram em busca do doutoramento, nos 3 anos seguintes, só foi possível formar 4 novos mestres; esse total chegou a 8 em 1974, com a volta dos doutores.
Em 1976, pela primeira vez a CAPES avaliou os cursos de pós-graduação do país, e deu conceito máximo ao mestrado em Engenharia Mecânica. Os laboratórios e grupos de pesquisa foram se consolidando e trazendo temas práticos para dissertações de mestrado. O centésimo pós-graduado recebeu o título em 1983 e, nos 3 anos subsequentes, mais 50 viraram mestres.
Os anos 80 começaram com a autorização do Conselho Federal de Educação para que o Departamento oferecesse também um curso de doutoramento, porém somente em 1988 ocorreram as duas primeiras defesas. Na década de 90, o CPGEM se desdobrou em POSMEC (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica) e PGMAT (Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais). Os cursos oferecidos por eles atualmente ostentam conceitos da CAPES que indicam “desempenho equivalente ao alto padrão internacional”.
Em meio século, proliferaram programas de pós-graduação na UFSC, tanto que há hoje 87 programas do gênero. Em 2019, uma solenidade alusiva aos 50 anos foi promovida na Reitoria (notícia disponível no site Notícias da UFSC). A última cerimônia comemorativa está prevista para dezembro e até lá estaremos lembrando dos pioneiros, responsáveis por pavimentar o caminho para tantos mestres e doutores formados em Santa Catarina.
Fonte: Divulgação EMC/UFSC com base em palestra proferida pelo Prof. Arno Blass em 2009. Sobre os 40 anos da pós, há matéria da CAPES no site.