

A expectativa de alunos da UFSC para a retomada das aulas, no dia 31 de agosto, é tão grande quanto o esforço dos professores para se adequarem ao ensino não presencial, com a maior qualidade possível. No Departamento de Engenharia Mecânica (EMC), a mobilização docente para preparar e dar aulas virtualmente nos cursos de graduação vem requerendo não só dedicação, mas também tempo além do previsto em seus contratos de trabalho e investimentos dos próprios bolsos.
Por exemplo, mais de R$ 2.500,00 foram gastos pelo Subchefe do EMC, Prof. Lauro Nicolazzi, para comprar 11 itens, entre equipamentos e acessórios (quadro).
“Isso sem contar que a filmadora, o tripé para a filmadora, a impressora, a internet (100 Mbps) e o computador são meus e foram pagos por mim”, pondera o Prof. Lauro, que ministra disciplinas da área de Projeto Mecânico. “Vou dar aulas nos horários normais e gravá-las para enviar posteriormente aos alunos. Além disso, estou gravando vídeos com o conteúdo dos assuntos e vou colocá-los no meu canal do YouTube, somente disponível para eles, que também têm o meu WhatsApp, o meu Instragram, o meu Skype… Com isso, mesmo com alguns problemas que ocorrerão com as transmissões pela internet, estarei disponível por outros caminhos para conversar com eles.”
Vários professores que se dispuseram a adquirir equipamentos tiveram dificuldade em encontrá-los no mercado ou os acharam com preço triplicado em relação ao valor praticado antes da pandemia. Foi o caso das webcams. Em todas as situações, a troca de experiências e, principalmente, a solidariedade entre os professores resolveu os maiores gargalos do planejamento do ensino. “Não vimos como os professores estão preparando as aulas novas, então não sei se os estudantes têm essa noção. A gente ainda não sabe muito bem como irá funcionar o EAD, mas a maioria prefere o EAD do que não ter aula nenhuma”, disse Nicollas Squillante, aluno da sétima fase do curso de graduação em Engenharia Mecânica.
Desafios extras
Professores que já haviam comunicado o desejo de se aposentar às instâncias responsáveis da UFSC e os demais membros do quadro docente – 40% dele composto por pessoas acima dos 60 anos – estão tendo de aprender a lidar com ferramentas tecnológicas educacionais. “Todos, independentemente de estarem se aposentando ou não, estão empenhados e investindo no ensino remoto. Alguns estão sofisticando mais as atividades, outros o fazem de forma mais simples, mas ninguém fugiu à responsabilidade”, ressalta o Chefe do Departamento. Prof. Sergio Gargioni.
O grupo de WhatsApp do EMC registrou um volume de mensagens possivelmente maior do que em tempos de ensino presencial, por causa do desafio de transmitir conhecimento de forma virtual. O próprio Departamento organizou lives semanais com especialistas em Educação a Distância, modalidade considerada ainda mais ampla que o ensino não presencial, e incentivou os docentes a assistirem também às palestras promovidas pela Direção do Centro Tecnológico, que ofereceu ajuda também em outras esferas. Sem falar no apoio oferecido por outras unidades da UFSC para facilitar o preparo de aulas virtuais e fazer avaliações usando ferramentas síncronas ou assíncronas (em tempo real ou não).
“Realizei alguns cursos e me beneficiei muito do seu conteúdo. Faço um elogio especial ao LINC Digital (Laboratório de Inovação, Negócios e Cocriação), do Departamento de Administração. São muito bons os cursos que eles oferecem. Elogio também o papel da SeTIC (Superintendência de Governança Eletrônica e Tecnologia da Informação e Comunicação), que tem sido muito importante em prover infraestrutura e apoio”, disse o Prof. Alvaro Toubes Prata, ex-reitor da UFSC.
Demorou
Vale lembrar que ainda em junho o Colegiado do Departamento aprovou, por unanimidade, um manifesto no qual afirmava que “a suspensão das atividades de ensino perdura demasiadamente” e se manifestava “disponível e preparado para retomar as atividades de ensino, na modalidade remota, a partir do dia 13 de julho próximo”. Como o Conselho Universitário definiu como data de início das aulas o dia 31 de agosto – mais de dois meses mais tarde – o EMC aproveitou o tempo para capacitar professores e identificar quais alunos não tinham meios necessários para acompanhar as aulas a distância, bem como buscar soluções para os problemas.
Em julho, a Alumni EMC (Associação de Ex-alunos do Departamento de Engenharia Mecânica e da Escola de Engenharia Industrial) fez um apelo aos seus membros e obteve não só uma oferta de doação em dinheiro – do Alumnus Diogo Augusto Voigt Gernhardt, “para ajudar com a compra dos computadores”, nas suas palavras – como a disponibilização de laboratórios da rede SENAI para uso dos estudantes carentes, por parte do Diretor Administrativo Financeiro da Alumni EMC, Alfredo Piotrovski.
A alocação de meios digitais para os alunos está em andamento e os Planos de Ensino já foram aprovados e disponibilizados em https://emc.ufsc.br/portal/disciplinas-e-planos-de-ensino/. Das 101 disciplinas, divididas em 172 turmas, previstas no início do ano, apenas 9 não serão ofertadas nesse retorno do semestre letivo 2020.1, principalmente por conta da impossibilidade de fazer aulas práticas presenciais em laboratórios. “Elas voltarão a ser oferecidas tão logo seja possível”, esclarece o Prof. Gargioni, docente há 48 anos.
“Há séculos, as aulas fazem uso do mesmo formato e as novas tecnologias têm tido dificuldades para serem absorvidas integralmente pelas universidades. Com a pandemia, todos foram forçados a sair da posição de conforto”, salienta o Prof. Prata, que há 42 anos dá aulas no EMC. Já o Coordenador do Curso de Graduação em Engenharia de Materiais, Celso Peres Fernandes, vê na propagação do coronavírus e consequente suspensão das aulas por 5 meses um convite à reflexão sobre o que precisa ser mudado ou adaptado na UFSC. “A pandemia teve o efeito de nos escancarar algo que suspeitávamos, ou mesmo sabíamos, que é a nossa fragilidade, enquanto instituição, em resolver problemas quando o tempo é curto. Creio termos uma estrutura organizacional complicada e completamente burocratizada”, opina o Prof. Celso.
Membro da comissão responsável pela atualização dos planos de ensino 2020.1, o Prof. Amir Antonio Martins de Oliveira Jr. contextualiza: “A UFSC é uma instituição jovem para os padrões internacionais. No entanto, figura entre as melhores da América do Sul e tem estado na vanguarda da pós-graduação no Brasil. Muito cedo na história da sua pós-graduação, a UFSC começou a utilizar os computadores nos trabalhos de pesquisa, nas dissertações e teses”.
Desde 1989, quando ele se formou em Engenharia Mecânica, os laboratórios do Departamento já tinham micro-computadores, sistemas micro-processados e algo que pode ser considerado um tipo primitivo de internet, a BITNET. “Hoje fazemos cálculos numéricos avançados nas Ciências e nas Engenharias, analisamos grandes bancos de dados, aplicamos técnicas de diagnóstico a distância. Não acredito que essa mesma excelência e vanguarda não possa atingir o ensino de graduação e pós-graduação. Entendo que isso só depende da decisão, do envolvimento, do empenho e da responsabilidade dos docentes e dos alunos, inclusive em resolver as dificuldades de acesso e operação no mundo digital. Nosso Departamento de Engenharia Mecânica, nossos cursos de graduação e pós-graduação, nossos docentes e alunos, olhamos para o futuro e trabalhamos para sermos protagonistas na sua construção,” conclui o Prof. Amir, que também organizou as lives semanais, entre outras atividades.
Informações sobre o semestre 2020.1
https://emc.ufsc.br/portal/informacoes-sobre-o-semestre-2020-1/
Diretrizes e recomendações a professores e estudantes
https://emc.ufsc.br/portal/diretrizes-e-recomendacoes/
Fonte: Divulgação EMC/UFSC