História

Florianópolis, hoje, é consolidada no Brasil como polo tecnológico, e o Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC teve grande contribuição neste desenvolvimento. Considerado promissor nos dias atuais, o cenário nem sempre foi favorável. Na década de 1960, a capital catarinense encontrava-se isoladas dos centros industriais. Com apenas 80 mil habitantes, parecia não comportar uma Escola de Engenharia.

Não é o que pensava o entusiasta professor João David Ferreira Lima, primeiro reitor da Universidade Federal de Santa Catarina. Com a aprovação de Jurandyr Lodi, então diretor de ensino superior do Ministério da Educação e Cultura (MEC), criou o curso de Engenharia Industrial – Mecânica, Química e Metalúrgica. As três modalidades definidas, segundo Lodi, seriam estratégicas para a política desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitscheck. Assim nasceu a Escola de Engenharia Industrial (EEI), futuro Centro Tecnológico da UFSC.

No dia 2 de maio de 1962, os 28 alunos da primeira turma, aprovados por vestibular, começaram o Curso de Engenharia Mecânica. No início, as salas de aula eram emprestadas pelas faculdade de Direito e pelo Colégio Catarinense. Em algumas aulas práticas, eram utilizados laboratórios e oficinas da Escola Industrial de Florianópolis (atual IFSC).

Quatro anos mais tarde, em 19 de novembro de 1966, a primeira turma de engenheiros mecânicos formada pela UFSC colou grau. Nesse mesmo ano foi inaugurado o pavilhão da Mecânica no campus e chegaram os primeiros equipamentos, avaliados em cerca de U$ 1 milhão, por meio do Convênio do Café.

No ano seguinte, a Escola de Engenharia Industrial tinha cerca de 100 alunos, e o estágio obrigatório entrou no currículo – assim, foram dados os primeiros passos na relação com a indústria.

Por conta da Reforma Universitária de 1968, que fixava normas de funcionamento do ensino superior, a Escola de Engenharia Industrial deixou de existir. Em seu lugar, foi instituído o Centro Tecnológico (CTC), formado por cinco departamentos, entre eles o de Engenharia Mecânica.

A estrutura administrativa proposta pela Reforma também criou uma série de cargos, entre os quais estava a chefia de departamento, ocupada pela primeira vez, em 1971, pelo professor Honorato Tomelin – exercendo a função até 1976.

Com o passar dos anos, a qualificação do corpo docente passou a atrair mais alunos, tanto de graduação quanto de mestrado. No vestibular de 1977, o curso de graduação em Engenharia Mecânica ampliou de 70 para 100 vagas oferecidas.

O Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica iniciou as atividades em março de 1969, inaugurando o primeiro mestrado da Universidade Federal e do Estado de Santa Catarina.

A primeira turma de mestrandos era resultado de uma seleção modesta, que incluiu indicações de outras escolas da região Sul e, em maior parte, ex-alunos do curso de Engenharia Mecânica da UFSC.

A chegada de equipamentos e a ampliação da equipe de docentes (o Departamento já tinha quase 60 no final dos anos 1970), contribuiu para a criação e consolidação de alguns laboratórios, como o Laboratório de Soldagem (Labsolda) e o Laboratório de Vibrações e Acústica (LVA).

Um fator decisivo na constante melhoria dos laboratórios foi a aproximação com o setor industrial. Em 1983, uma parceria entre o LVA com a Embraco ajudou a ampliar o laboratório, com a aquisição de diversos equipamentos. Na década seguinte, um projeto cooperativo deu início a uma sólida parceria com a Embraer, envolvendo recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento na área de ruído e vibrações em aviões a jato.

Dentre outros projetos desenvolvidos pelo LVA, também podem ser destacados os estudos para predição de níveis de ruído em plataformas de petróleo, feitos em parceria com a Petrobras.

O Departamento consolidou seu destaque no meio acadêmico com o lançamento do primeiro programa de doutorado da UFSC, em 1980. Com uma produção acadêmica destacada, suas pesquisas geravam artigos publicados no Brasil e no exterior – prática ainda pouco comum entre os professores universitários de Engenharia do país.

Além dos convênios firmados com órgãos de fomento como FINEP, CNPq, Capes e CNEN, uma das formas encontradas para viabilizar a expansão do Departamento era o desenvolvimento de projetos cooperativos com empresas, modelo adotado pela Engenharia Mecânica desde a criação da Escola de Engenharia Industrial, em 1962, e que depois tornou-se referência em outros departamentos do Centro Tecnológico e da própria UFSC.

Se nos primeiros anos foi preciso que professores e estudantes batessem às portas das empresas, no início dos anos 1980 essa situação se inverteria.

Um dos casos mais notórios dessa aproximação universidade-empresa começou em 1982, quando a Empresa Brasileira de Compressores (Embraco), de Joinville (SC), encontrou no Departamento a ajuda que precisava para alcançar uma de suas metas estratégicas: a independência tecnológica.

Na época, alguns laboratórios e grupos de pesquisa do Departamento já haviam se tornado referência no Brasil. Um deles era o Grupo de Pesquisa e Treinamento em Comando Numérico e Automação Industrial (Grucon). Na mesma época, com o apoio de professores alemães, foi fundada a Sociedade Brasileira de Comando Numérico (Sobracon), que contribuiria para intensificar a relação entre a UFSC e as empresas fornecedoras de tecnologia.

Com recursos provenientes das atividades de extensão, o Departamento conseguia comprar material de consumo, realizar a manutenção de equipamentos, financiar a supervisão dos estágios e oferecer bolsas de estudo, envolvendo cerca de 200 alunos de graduação em atividades de pesquisa.

Ainda em 1982, dirigentes da Eletrosul se reuniram com professores dos departamentos de Engenharia Mecânica, Elétrica e de Produção para implantar um Centro de Tecnologia em Florianópolis, que contaria com a participação de ambas as instituições, além de outras empresas da área, como WEG, Inplac, Multibrás, Embraco, Hering, Volkswagen, Mercedes-Benzs, Metal Leve e Pirelli.

O projeto saiu do papel em 1984, dando origem ao Centro Regional de Tecnologia em Informática (Certi). Nascia, assim, uma instituição privada, sem fins lucrativos, resultado de uma parceria entre a UFSC, o governo estadual (por meio da Secretaria Especial de Informática) e outras entidades públicas e privadas. O Certi foi inicialmente instalado dentro do Labmetro, no pavilhão do Departamento de Engenharia Mecânica.

Pouco mais de duas décadas após sua fundação, o sucesso alcançado pela instituição superou as expectativas de seus fundadores, que não previram a atuação da Certi em áreas nas quais se tornou referência, como incubação de empresas e criação de parques tecnológicos. Em pesquisa e desenvolvimento, a Certi se destaca nos campos de metrologia, automação da medição, sistemas de qualidade e, mais recentemente, gestão empresarial. A fundação também foi responsável por projetos importantes relacionados à convergência digital, como a urna eletrônica brasileira, terminais de automação bancária e terminais públicos de acesso à internet.

Em 1991, foram iniciadas as atividades de pesquisa na área de tubos de calor e termossifões de duas fases, em parceria com a Universidade de Stuttgart (Alemanha). Um ano após as atividades, o Laboratório de Energia Solar (Labsolar) recebeu apoio da Agência Espacial Brasileira, o que permitiu implementar a toda a infraestrutura de pesquisa na área de tubos de calor para aplicação espacial.

Os investimentos e a integração gradativa de professores de vários cursos aos projetos em desenvolvimento no Laboratório de Materiais (LabMat) contribuíram à criação do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (1994) e do Curso de Graduação em Engenharia de Materiais (1999), vinculados ao Departamento de Engenharia Mecânica.

Em 1998, o CPGEM passou a se chamar Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (POSMEC).

Em 1999, o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (POSMEC) submeteu e teve a aprovação pela Capes de seu projeto de mestrado profissional, modalidade de ensino oferecida sob encomenda a grandes empresas. Desde então foram oferecidos três cursos de mestrado profissional para colaboradores de empresas como Fiat, Braskem, Petrobras e WEG.

Na UFSC, em 1999, os alunos do Curso de Engenharia Mecânica realizaram pela primeira vez Exame Nacional de Cursos, aplicado pelo MEC, com o objetivo de avaliar os resultados do processo ensino-aprendizagem. O Curso recebeu o conceito máximo (5), confirmando sua posição entre os melhores do Brasil.

A partir de 2000, o Laship (Laboratório de Sistemas Hidráulicos e Pneumáticos) envolveu-se com pesquisas para a geração de energia elétrica, em forte parceria com a empresa Reivax, de Florianópolis, o que contribuiu para atrair outras empresas parceiras.

No início do século XXI, os desafios na área de energia se tornaram ainda maiores. Entre 2003 e 2006, o programa P&D da Celesc e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) deu apoio ao Labsolar para instalar uma bancada de teste de coletores solares. Graças a esse projeto, foi disponibilizada a única banca qualificada para teste quase-dinâmico de coletores solares da América do Sul.

Em 2019, a UFSC comemorou os 50 anos da pós-graduação, a qual começou com o mestrado em Engenharia Mecânica.

Em 2020, a Alumni EMC foi oficializada, após constituição em nov/2019