No próximo domingo (8), o Prof. Eduardo Augusto Bezerra, PhD. do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), embarcará para a China como integrante da delegação brasileira liderada pelo astronauta Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Eles acompanharão o lançamento do Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres CBERS-4A e do FloripaSat, um satélite miniaturizado de pesquisa concebido e fabricado por alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia de Automação e Sistemas e Engenharia Elétrica, sob orientação docente, em parceria com o programa Uniespaço da AEB (Agência Espacial Brasileira).
Entre eles está Edemar Morsch Filho, engenheiro aeroespacial e doutorando no POSMEC (Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica). Ele é líder da Equipe de Montagem, Integração e Teste da missão que produziu o FloripaSat-1, nanossatélite do tipo CubeSat, um cubo com lados de 10 centímetros que será lançado por um foguete chinês no dia 20 de dezembro.
“O satélite precisa ser capaz de sobreviver ao lançamento e ao ambiente espacial, condições que impactam em todo o projeto do satélite. A vibração é o principal problema no lançamento e é necessário garantir que o satélite não falhe estruturalmente pois tanto o foguete quanto a estrutura de lançamento custam dezenas de milhões de reais, além de envolver riscos a vida das pessoas no entorno. Em órbita, o satélite está exposto ao vácuo, viaja a aproximadamente 27 mil quilômetros por hora e atinge temperaturas de aproximadamente 60 °C nas partes expostas ao sol e 30 °C negativos quanto está sob a sombra da terra. Resumidamente, não há espaço para muitas falhas no projeto”, explica o doutorando do LABCET, cujo orientador é o Prof. Vicente de Paulo Nicolau, do EMC (Departamento de Engenharia Mecânica).
Entre 30 e 40 pessoas trabalharam diretamente na missão desde 2012, resultando em TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso), dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de publicações científicas em conferências e periódicos. “Do ponto de vista científico, estamos com uma ótima produção relacionada ao satélite – isso sem tê-lo lançado. Após o lançamento, esperamos obter dados para possibilitar uma maior divulgação das pesquisas em andamento”, pondera o Prof. Eduardo (na foto), que recebeu apoio da Propesq (Pró-Reitoria de Pesquisa) e do CTC (Centro Tecnológico) para pagar parte das despesas da viagem à China.
A formação de recursos humanos qualificados para a área espacial em Santa Catarina ganhou impulso em 2009 com a criação do curso de Engenharia Aeroespacial da UFSC em Joinville, um dos poucos no Brasil. Em 2017, a EMBRAER montou na capital catarinense o Centro de Engenharia e Tecnologia, para desenvolver sistemas eletrônicos aeronáuticos. Ainda em Florianópolis foi constituído o SC2C.Aero (Centro de Convergência de Santa Catarina em Tecnologias Aeroespaciais), que tem se organizado para atrair e promover projetos dos seus grupos técnicos (laboratórios da UFSC, Fundação CERTI e SENAI). Só em 2019, o SC2C.Aero já promoveu dois workshops, sendo o último dentro da feira de exposição das Forças Armadas SC EXPO Defense.
“Um satélite catarinense nesse momento representa um ótima alavanca para essas iniciativas, e espero que uma missão com o FloripaSat possa servir como um agregador para o setor industrial e científico”, diz o professor, que neste ano também formalizou como laboratório de pesquisa da UFSC o SpaceLab, evolução do Grupo de Sistemas Embarcados desde 2004 em cooperação com outros laboratórios. O SpaceLab passou a coordenar a missão Floripasat-1, na qual foram envolvidos o LABCET, o LABMAT e o LABTERMO, do Departamento de Engenharia Mecânica. Os 3 laboratórios participaram do desenvolvimento do ADCS (Attitude Determination Control System), cuja função é controlar o apontamento de todo o satélite, consequentemente as antenas e painéis solares. O ADCS do FloripaSat-I é um sistema passivo composto por um ímã e barras de histerese que passam por um tratamento térmico específico.
Também contou a experiência do LABTUCAL, que possui um rico histórico de atuação com o setor aeroespacial. Criado em 1995, participou de todas as missões voltadas a testes em ambiente de microgravidade da AEB. Mais: em 2006, o então astronauta Marcos Pontes partiu rumo à Estação Espacial Internacional, na nave Soyuz TMA-8, com experimentos científicos voltados ao desenvolvimento de sistemas que auxiliam no controle térmico de satélites, idealizados no LABCET e no LABTUCAL. O último também sediou testes essenciais à finalização do FloripaSat-1 em 2016.
Um projeto interdisciplinar como o do “satélite manezinho” na verdade não poderia ter sido concretizado se cada um agisse como uma ilha. “Tivemos o apoio do ISI/SENAI nos cedendo espaço para integração; do IFSC com questões de ground station; da Escola Municipal Tancredo Neves, de Ubatuba/SP, para a realização de um congresso e cooperação em projetos de satélite; e a ESA Estec, com um payload”, acrescenta Edemar.
Se tudo der certo, o FloripaSat passará a enviar e receber telemetria na frequência radioamador, ou seja, aberta à toda a comunidade, já que o objetivo dos estudantes que o projetaram “foi fazer uma plataforma open-source para que outras pessoas a utilizem”, nas palavras do doutorando, cuja tese abordará a maximização da geração de energia em nanosatélites através do controle térmico passivo.
Fonte: Divulgação EMC/UFSC